Editorial do JC (Recife), 30 de Março de 2009
A ESCOLA E O SEU MEIO
Os cada vez mais freqüentes casos de violência escolar devem manter acesa a luz de alerta da Nação, por enquanto laranja e, se nada for feito, brevemente vermelha. Essa é uma questão gravíssima, porque indicadora do ensino e aprendizado que temos e o País que queremos. Procurar as razões está cada vez mais complicado, porque fica difícil de entender e explicar que apenas a pobreza seja responsável pelo desencaminhamento de jovens, já não mais apenas garotos adolescentes mas, também, garotas que agridem professores e professoras e bloqueiam inteiramente vocações, já abaladas por salários baixos.
Além da questão social, que indiscutivelmente tem a ver com o comportamento hostil de parte de nossa juventude – assim como em passado não muito distante caracterizava a juventude transviada – há agravantes que fazem desse um tema muito complexo, até porque tem a ver com a preocupação pedagógica que acompanha a história do País, particularmente a história republicana, e que costuma ser contada a partir de Anísio Teixeira e do manifesto dos educadores no começo dos anos 30. Um percurso e uma preocupação a que se juntaram o nosso notável Paulo Freire e gerações de educadores formados sob teorias pedagógicas que vão da mais rigorosa estratificação a Summerhill, a escola para a democracia, idealizada há quase um século no interior da Inglaterra e que ainda hoje leva a discussão, principalmente quando se constata o cada vez maior distanciamento entre a escola e a família.
O que se tem como lição elementar é que a violência nas escolas reflete padrões de comportamento que são forjados frequentemente nas ruas e tolerados no lar, quando não gerados diretamente da tendência de fazer da escola apenas um depósito de filhos, como sabiamente comentou o vigilante Luiz Carlos Lemos em reportagem deste JC sobre a união que faz melhor a escola. E o desdobramento desse raciocínio é ainda mais educativo: “A gente tem que participar, pelo bem delas”. A repórter Margarida Azevedo foi conferir essa lição entre os educadores e constatou o consenso. Dirigentes e professores são unânimes: quanto maior o envolvimento da comunidade na rotina escolar, melhor o funcionamento das escolas e o aprendizado.
E já não se trata apenas de ter nesse envolvimento a primeira gota do antídoto contra o veneno da violência que se manifesta de forma brutal, com freqüência destruindo vocações de mestres e mestras que procuram outro meio de sobrevivência, deixando a vocação nas salas de aula. O trabalho de união por uma melhor escola tem a ver com o lado emocional do processo, porque aproxima os personagens da mesma trama, afinando o diálogo, o que é sempre construtivo em qualquer atividade. Os bons resultados que essa relação propicia foram vistos por nossa repórter em escolas do Grande Recife e aí estão postos, para quem ainda não percebeu, exemplos como o da Escola Municipal Brites de Albuquerque, em Olinda.
Ali, no Brites de Albuquerque, se desenvolve um projeto chamado Família e Escola com a realização de encontros sistemáticos para discutir os problemas da comunidade. Discute-se sobre temas geralmente distantes dos bancos escolares na ótica do ensino, mas muito presentes na realidade: drogas e violência, inclusive violência sexual que caracteriza um dos aspectos da brutalidade que vai às ruas e que termina pela criação de delegacias da mulher ou a necessidade de um legislação especificamente voltada para a agressão contra mulheres. Um detalhe do que se passa nessa escola de Olinda é ilustrativo da importância de uma educação com maior aproximação entre pais e educadores: há oito anos a escola não é pintada, mas não tem pichações, e as bancas são conservadas, porque alunos e comunidades sabem que ali está um patrimônio coletivo, de todos. Certamente não é a perfeição, mas um modelo a seguir a aprimorar, no conjunto de preocupações em se saber o que acontece com o nosso ensino.
terça-feira, 31 de março de 2009
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