Socialismo com a nossa cara? É ou poderia ser, mas não é Socialismo!
COMENTÁRIO DE OTÁVIO: Se podemos chamar de Socialismo o que a UJS do PC do B faz na e com a UNE talvez é porque Che Guevara também tem sido usado apenas como ilustração por um grupo de jovens fechado no seu pequeno mundinho.
FONTE: http://www.ujs.org.br/14_congresso/manifesto.pdf
Socialismo com a nossa cara
Manifesto da UJS
1. Nos bancos das escolas e universidades, no cotidiano do trabalho das fábricas e repartições,
nas periferias, no duro ofício de lavrar a terra, nas praças, ruas, palcos, quartéis, campos,
praias e festas dizemos presente.
2. Somos milhões de faces que dão a cara jovem ao Brasil. Somos Socialistas porque, jovens
que somos, andamos abraçados com o futuro e a busca da felicidade - desejos que são
diariamente frustados nessa sociedade capitalista que não tem perspectiva e só nos oferece a
desilusão e a exploração.
"Há tempos são os jovens que adoecem" [Legião Urbana]
3. Aqui no Brasil, somos discriminados e postos de escanteio. Amargamos o não
aproveitamento do melhor de nossa criatividade e energia na imensa fila dos desempregados.
A placa de "NÃO HÁ VAGAS" é a senha de nossa exclusão e marginalização. Somos milhões
que não têm acesso às universidades ou a nenhuma forma de ensino profissionalizante. O
analfabetismo ainda atinge muitos de nós. Nas escolas e universidades encontramos um
ensino elitista, atrasado e conservador, sem investimentos e democracia.
4. Toda a nossa história e a nossa cultura expressadas em incalculáveis prosas e versos, em
livros e nas artes, que constituem um fantástico patrimônio cultural, inclusive já encenadas no
cinema, teatro e televisão, não são acessíveis a todos. No Brasil, permanece o monopólio dos
meios de comunicação, que não permitem a expressão da cultura popular e a propagação de
idéias e da pluralidade.
5. Para nós, oferecem o individualismo, a discriminação e a exclusão social. As drogas, que
além de serem tratadas como crime, são lembradas somente nos telejornais, persistindo a
absurda ausência de uma mínima política de Estado capaz de tratar o problema como uma
questão de saúde pública, o que acaba por somente enriquecer os capitalistas e o tráfico.
6. Nossas cidades não nos oferecem espaços públicos de esporte e lazer; não temos acesso à
mobilidade urbana e ainda enfrentamos graves problemas de moradia. Nas periferias faltam
segurança pública e a realização de outros direitos fundamentais para o nosso
desenvolvimento pleno. A insegurança toma conta dos grandes centros. Esse meio não nos
interessa, não nos satisfaz, queremos cidades capazes de incluir a todos sem discriminação de
crença, cor e classe social e gênero.
7. Queremos acesso à saúde pública de qualidade e universal. Somente assim combateremos
as epidemias e as doenças que atingem a parcela mais necessitada de nosso povo. Não
queremos enriquecer a indústria farmacêutica nem o oligopólio dos planos de saúde privada. É
preciso investir em saúde preventiva e em qualidade de vida.
8. Nossa sexualidade precisa ser respeitada, livre de dogmas e de visões conservadoras. Não
nos oferecem educação sexual nas escolas e não temos acesso a métodos anticonceptivos.
São milhares de jovens que enfrentam uma gravidez sem nenhuma proteção e
acompanhamento. Por ser tratado como crime e não como problema de saúde pública, o
aborto em clínicas de fundo de quintal acaba sendo a única alternativa para interromper uma
gravidez precoce e indesejada. Muitos jovens são vitimados pela Aids, por falta de informações
e meios de prevenção. No Brasil, a sexualidade é banalizada e reproduz o machismo e a
homofobia.
9. Nosso meio ambiente é vítima da insanidade capitalista que o degrada, polui e destrói. O
Brasil do futuro depende do equilíbrio entre o desenvolvimento e a preservação das nossas
riquezas naturais.
"Quem quer manter a ordem?" [Titãs]
10.. Os donos do poder afirmam que vivemos uma democracia porque temos eleições.
Escondem que as regras dessa ordem só servem para os que têm poder financeiro.
11. Essa democracia nos discrimina, não nos ouve e não nos serve. Somos considerados o
futuro e, assim, no presente não temos espaço para opinar, participar e decidir. Mesmo esta
falsa democracia cada vez mais é atacada e limitada...
12. A violência nos persegue o tempo todo. Muitos dos nossos nos ferem ou se matam em
disputa entre gangues, ou são espancados pelos próprios pais.
13. Outros recebem uma bala perdida ou são vítimas de assalto ou perseguição. No
capitalismo não temos paz.
14. Nossa liberdade é extremamente vigiada e reprimida. As elites e os meios de comunicação
discriminam o negro, tratando-o como escravo "moderno" e deformando sua história. Às
mulheres não dão igualdade de direito e não entendem sua realidade e suas diferenças. A
homossexualidade é tratada como doença e não como livre orientação sexual. Preconceito e
discriminação são as marcas do nosso tempo.
"Que país é este?" [Legião Urbana]
15. Com um povo criativo, num vasto território e riqueza de fazer inveja, nosso gigante viveu
por séculos ajoelhado. O Brasil ainda precisa avançar na sua independência em relação aos
países imperialistas, em especial aos Estados Unidos.
16. O que move a chamada globalização é a busca do lucro, o desejo de acabar com a
soberania dos países, explorar seus trabalhadores, destruir suas culturas e anexar suas
riquezas. Conduzido neste rumo em décadas de submissão, nosso Brasil viu sua bandeira
pisoteada, sua independência destruída e seu futuro comprometido.
"Quero ver quem paga pra gente ficar assim" [Cazuza]
17. Nossa história está marcada pelo atraso e pela subordinação extrema. Portugal, Inglaterra
e Estados Unidos. Foram eles ao longo do tempo que promoveram a escravidão, a
monocultura, o atraso industrial, o desenvolvimento dependente e, mais recentemente, a
tentativa de desindustrialização e da nossa transformação em mercado de bugiganga.
18. Mas não foram eles os únicos responsáveis por esta triste história e pelo rumo atual.Os
latifundiários, praga secular do nosso país, sempre sustentaram este rumo através da violência
e do coronelismo político.
19. A chamada burguesia brasileira, incompetente e adepta do projeto imperialista, em sua
maioria, sempre se subordinou aos interesses de seus patrões e de seus subordinados
externos. O capital financeiro aqui já surgiu ligado aos grupos monopolistas estrangeiros.
"Homem primata, capitalismo selvagem" [Titãs]
20. Se o capitalismo em nosso país é trágico para o povo, no mundo não é diferente. Em sua
fúria exploratória tenta fazer do mundo inteiro um vasto campo para sua ganância.
Proprietários da tecnologia, fazem suas mercadorias e capitais percorrerem o mundo com
velocidade. Trilhões de dólares circulam nos sistemas financeiros como nuvens por todo o
globo, vivendo somente da especulação e do roubo.
21. Globalizado o capitalismo, globalizada a exclusão capitalista, que arrasta milhões para a
miséria, as doenças, a fome e a morte. Globalizado o capitalismo, globalizado o caráter
desumano, cruel e ineficiente. Globalizada a necessidade de superá-lo, de pôr fim nesta
barbárie "moderna".
"... carro alegre, cheio de gente contente..." [Pablo Milanés]
22. Assim é a história: a juventude e os povos do mundo não se calam diante do caos
capitalista. Em todos os continentes se levantam vozes e punhos contra o capitalismo e seus
males. Exigem direitos sociais, defendem seu país, sua liberdade e assim, de dedo em riste,
encaram o capitalismo, negador dos seus anseios.
"Mas eu não sou as coisas e me revolto" [Carlos Drummond de Andrade]
23. A história do capitalismo é também a história de resistência à exploração e sua defesa de
outra sociedade. Esta luta gerou em 1848, pelas mãos dos jovens alemães, Karl Marx e
Friedrich Engels, o Manifesto do Partido Comunista, programa básico de luta contra o
capitalismo e em defesa do socialismo. Programa que até hoje nos inspira. Em 1917, sob o
comando de Lênin e outros revolucionários, o socialismo prova na velha Rússia que o
capitalismo não é eterno. Em poucas década o socialismo alterou a face do mundo, levando à
construção da União Soviética e à vitória de vários povos do leste europeu e da Ásia. Nestas
suas primeiras experiências históricas, prova que é superior ao capitalismo ao oferecer direitos
sociais e uma nova perspectiva de vida para a Humanidade, mesmo vivendo sob o constante
cerco capitalista. Jamais um país enfrentou tantas agressões. E, ainda assim, foi a URSS que
derrotou a agressão nazista, perdendo 22 milhões de patriotas, abrindo uma época de maiores
direitos sociais, democracia e o fim do colonialismo.
No entanto, o povo, força principal da revolução, foi perdendo protagonismo. A democracia e a
liberdade foram se reduzindo para os trabalhadores e a juventude. A vida cultural e científica
passou a ser tratada com oficialismo, fatores que desarmaram as forças revolucionárias,
levando ao fim deste primeiro ciclo socialista na URSS e no Leste Europeu. Mas o tempo não
pára. A resistência do socialismo na China, em Cuba, no Vietnã, na Coréia Popular e no Laos e
a sua evolução, junto com a luta dos povos em todo o mundo abrem caminhos da nova luta
pelo Socialismo, em especial na Ásia e na América Latina.
24. Esses reveses nas primeiras experiências socialistas revelam erros e mostram a
necessidade de aprimorarmos mais seu projeto. A construção do socialismo está apenas no
seu começo. Hoje, perseguimos a edificação de um novo tempo, humanizado, igualitário, que
constituirá as bases do socialismo em nosso século. No socialismo com a nossa cara, o Brasil
experimentará a sua própria experiência, construída a partir da nossa própria história.
"Canta, canta, minha gente / deixa a tristeza pra lá / canta forte, canta alto / que a vida vai
melhorar..." [Martinho da Vila]
24. Temos alegria e rebeldia para derrotarmos a face velha e capitalista do Brasil e em seu
lugar colocarmos o socialismo com a nossa cara. O Brasil socialista que queremos terá um
poder popular, uma República de trabalhadores que acabará com a exploração e nele haverá a
verdadeira liberdade e a mais ampla democracia para o povo e para a juventude.
25. Terá o ser humano como seu primeiro objetivo, será libertário e criativo, incentivando o
conhecimento e a transformação, será justo e igualitário. A terra e as empresas trarão
benefícios para todos e não somente para um punhado de capitalistas. O trabalho passará a
ser um valor fundamental do desenvolvimento humano. Nosso país socialista se relacionará
com o mundo de forma independente, respeitando a autonomia dos outros povos.
Romperemos as amarras que nos mantiveram tanto tempo de costas para o nosso continente
e finalmente assumiremos nossa identidade latino-americana.
26. Nosso povo, internacionalista, apoiará as lutas de outros povos por um mundo melhor. No
Brasil socialista, nós jovens seremos considerados uma força presente e nele conquistaremos
o espaço para discutir, participar e decidir sobre nossos interesses e sobre o rumo do país.
"Os meninos e o povo no poder..." [Milton Nascimento e Fernando Brant]
27. Não queremos fórmulas. O nosso socialismo será verde e amarelo, tocará viola, dançará
samba e rock. Fará carnaval e jogará futebol. Será construído a partir de nossa realidade e
caminhos que nós descortinaremos. Não queremos fórmulas. O nosso socialismo será verde e
amarelo, tocará viola, fará Hip-Hop, dançará samba e rock. Fará carnaval e jogará futebol. Será
construído a partir de nossa realidade e caminhos que nós descortinaremos.
28. Beberá da experiência da história da luta do nosso povo. Terá o vigor dos versos
abolicionistas de Castro Alves, a revolta de Zumbi, o desejo de liberdade de Tiradentes, a
bravura de Helenira Rezende, de Osvaldão e dos guerrilheiros do Araguaia, o hino democrático
das Diretas Já, a cara jovem e pintada do Fora Collor, e a alegria dos que comemoraram a
chegada de forças políticas oriundas dos partidos populares e dos movimentos sociais ao
governo do país. Guardará a lembrança daqueles que ontem resistiram e hoje resistem ao
neoliberalismo e que carregam consigo a bandeira da esperança e a certeza de que o futuro
nos pertence.
29. Beberá também da história da nossa América Latina, da vontade de unidade que moveu
Bolivar, da revolução camponesa de Zapata, da luta de Sandino, do exemplo de dedicação e
combatividade de Ernesto Che Guevara.
30. Nele, conquistaremos emprego digno, ensino público e gratuito, de qualidade, para todos,
em todos os níveis. Nele garantiremos acesso à arte produzida em nosso país e no mundo.
Lutaremos por uma nova cultura, progressista, popular e brasileira, por incentivos e espaços
aos nossos artistas.A ciência e a tecnologia deverão ser desenvolvidas e utilizadas para
nossos interesses, não para generalizar desemprego, destruir a natureza ou produzir armas e
guerra.
Queremos que esporte e lazer façam parte do nosso cotidiano e que tenham facilidade para
viajar para todos os lugares de nosso país.
Os grupos de extermínio terão que acabar e a polícia, ao invés de nos perseguir, vai Ter que
prender aqueles que destroem a natureza, que roubam o dinheiro do povo, que vendem a
droga e promovem a prostituição.
Brasileiro, formado pelas várias etnias que se somaram e criaram um povo novo, nosso
socialismo terá de acabar de fato com a discriminação e os preconceitos de toda a espécie.
Nele exigiremos direito à saúde, à habitação e ao futuro. A natureza será protegida como será
nosso povo. Nossa infância terá atenção e ao invés de viver jogada pelas ruas, terá o direito de
brincar e de crescer sorrindo.Ajudaremos a acabar com o analfabetismo e com a ignorância. O
povo aprenderá a linguagem dos computadores e da Internet, mas não deixará de lado o seu
hábito de diálogo franco e seu contato social permanente. Queremos que TVs, Rádios,
Cinemas e todos os meios de comunicação deixem de ser instrumentos de quadrilhas e sirvam
aos nossos interesses.
Parece utopia, mas é plenamente realizável. Nós transformaremos a face do Brasil. Nunca
negamos nossa rebeldia e força para as grandes transformações. A revolução que queremos
exige muita luta. Não será obra fácil. De sua edificação terão que participar os trabalhadores do
campo e da cidade, a juventude, os artistas e as personalidades populares. A união popular
será a arma principal para vencermos. Dela deverão participar os sindicatos, as entidades
estudantis e todas as organizações do povo. Os partidos do povo, unidos, deverão também
fazer parte de uma ampla frente por uma vida nova.
"O homem coletivo sente a necessidade de lutar" - [Chico Science]
É para construir essa vida nova que te convidamos. A solidão não cabe para nós, pois vivemos
a luta deste tempo - cruel sim, mas também desafiador. Juntos escreveremos a história desse
novo Brasil que desejamos.
Aqui, na União da Juventude Socialista, vão se encontrar as bandeiras vermelhas, verdeamarelas
e os nossos anseios, nossa rebeldia, nossa solidariedade e a luta diária pelo
socialismo. Não nascemos para o silêncio, nascemos para cantar e viver outra vida, melhor e
mais justa. Assim será a república de trabalhadores que ajudaremos a construir. Nela estarão
"os meninos e o povo no poder...". Nela estará hasteada bem alta a bandeira do socialismo e,
nas faces, estampada a nossa alegria.
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