quarta-feira, 2 de julho de 2008

Diga Não ao repasse de R$30 milhões do Governo Federal à UJS do PC do B




Diga Não ao repasse de 30 milhões do Governo Federal à UJS do PC do B

Por Otávio Luiz Machado



Finalmente a União Juventude Socialista do Partido Comunista do Brasil (UJS/PC do B) que se apossou da União Nacional dos Estudantes (UNE) foi à luta. Não se assustem, pois não é a luta para trazer conquistas aos estudantes, pela participação dos jovens no movimento estudantil ou para defender o povo brasileiro.

A luta deles é para a construção de um prédio no antigo terreno quando funcionou ali a histórica e guerreira UNE. Foi o momento de uma UNE representativa, altiva, lutadora, crítica e que não beijava os pés das elites.
A imagem do que será o prédio é fantástica. Um prédio luxuoso de 13 andares na Praia do Flamengo do Rio de Janeiro, que certamente contará com computadores de última geração, móveis combinando com o ambiente, carpetes e cortinas bem definidas. Tudo do bom e do melhor. Gosto não se discute. Só podemos discutir quem vai pagar a conta ,que estimada para baixo (R$30 milhões) e assim não assustar o contribuinte brasileiro que certamente pagará a conta toda ou parte dela. Eis a tônica do meu texto.

A direção da UNE (com o grupo UJS/PC do B) está pressionando o Governo Federal a liberar tais recursos com as justificativas mais esdrúxulas. E para tentar enganar os contribuintes que pagarão a conta, mais um efeito do marketing político está circulando na Rede Globo, agora buscando arrecadar da população brasileira recursos para a construção de um senhor prédio. Privado apoiar privado até tudo bem. É o mais coerente, pois a UNE do jeito que se encontra hoje não interessa mais ao conjunto dos brasileiros. Quem achar que sim que faça sua doação.

O Portal O Vermelho, que é o órgão do PC do B (Partido Comunista do Brasil), na sua versão on-line de 16 de Maio de 2008 trazia a triste notícia ao povo brasileiro:

"Reconstrução da sede: A presidente da UNE, em sua fala, enfatizou a luta por reformas estruturais no Brasil, a necessidade de se abrir os arquivos da ditadura e a luta da UNE pela reconstrução de sua sede. Nos próximos dias, o presidente Lula deverá se reunir com a direção da entidade para tratar do assunto (para tratar obviamente do maior interesse que a direção da UNE pretende conquistar que é a nova sede e não as reformas estruturais ou a abertura dos arquivos da ditadura). O valor a ser repassado para a construção do novo prédio é de cerca de 30 milhões de reais. ´O primeiro ato do regime militar foi destruir nossa sede. Agora é a hora da reconstrução´ (Ver em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=37440

É bom dizer que o dito repasse de R$30 milhões do Governo Federal não seria para a uma entidade nacional dos estudantes, mas para um grupo partidário que se utiliza da UNE há cerca de duas décadas para atender aos seus interesses particulares e imediatos. Tal grupo tem nome e sigla: União Juventude Socialista do Partido Comunista do Brasil (UJS/PC do B).
Sempre é bom dizer que o grupo (UJS/PC do B) comandante da UNE lá está há 20 anos enquanto a nossa ditadura civil-militar durou 21 anos. Sempre as mesmas caras, as mesmas idéias de fazer algo somente para o grupo e utilizando-se dó País para tal. O que cabe nos perguntar: é uma ação entre amigos? Ou trata-se de amigos em ação?

As justificativas do slogan da Campanha para "obrigar" o Estado Brasileiro a pagar mais essa conta para a UJS/PC do B em nome da UNE é inadequada e de profunda má fé: O mesmo Estado que destruiu a sede da UNE e da UBES tem agora o dever de recontruí-la". Vamos aos argumentos. Em 1964, o prédio da UNE foi incendiado por parte de setores de uma sociedade civil conservadora. Quanto a tal fato não há dúvida nenhuma. No mundo jurídico a autoria de um crime é o principal argumento para se condenar uma alguém a ressarcir via indenização, ser apenado e ser preso. O prédio foi incendiando pela sociedade civil organizada e a demolição do mesmo ocorreu pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Não foi o Governo Federal ou o Estado Brasileiro que promoveu tais atos.
Não há condições jurídicas para que o Governo Lula assuma tal compromisso, o que é diferente nos casos de prisões, torturas e mortes de militantes de esquerda durante a ditadura, que comprovadamente o Estado terá que assumir ainda mais do que já assumiu. A UNE apoiava Goulart, que era odiado por setores da direita organizada. Quando os golpistas estavam prestes a tomar o poder foi natural que eles apoiassem o terror. E grupos da sociedade civil que partiram para incendiar a sede de uma entidade que representava naquela época a mudança e estava com sua imagem muito associada ao Governo Goulart.

A própria entidade, em parceria com a Rede Globo trouxe tais elementos, embora o foco de tal projeto foi mesmo com a intenção de promover a promoção de tal grupo. Ou a UJS/PC do B não leu o material reproduzido ou não deram o mínimo ao que os depoentes gentilmente falaram. Ou as duas coisas juntas.
Vejam alguns trechos do material produzido pela UNE sobre o incêndio ao prédio da UNE:

1) Depoimento de Franklin Martins: "Boa parte dos estudantes que queimaram o prédio da UNE foram estudantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) da Faculdade de Economia".

2) Depoimento de Ferreira Gullar: "Nós voltamos para a UNE. Quando nós nos aproximamos, no carro, nós vimos que havia um tumulto muito grande em frente à UNE. E o carro foi avançando devagar, porque o trânsito não andava. De repente ficamos parados em frente à sede da UNE, e, em volta de nós, uma multidão furiosa, com bombas molotov e com revólveres, dando tiros e jogando bombas molotov na sede. Passavam pela nossa janela e eu, presidente do CPC, com medo de ser reconhecido e trucidado (riso). Enquanto isso, como eu soube mais tarde, o pessoal que tinha ficado na UNE fugiu pelos fundos do prédio, em face dessa investida dos lacerdistas e dos direitistas. Eu vi o momento e que a sede começou a pegar fogo. Então, nós voltamos para casa. Eu residia nessa época em Ipanema. Fomos atravessando todo o resto da Praia do Flamengo, o bairro de Botafogo, e entramos na rua Barata Ribeiro, que tinha bandeiras saldando o golpe. Era um clima bastante desagradável para nós. Havia um certo apoio, sobretudo da classe média, ao golpe, ao que estava acontecendo. Porque já tinha havido passeatas, manifestações da classe média, sobretudo, contra o governo João Goulart e, de certo modo, dando aval à sua derrubada".

3) Depoimento de Antônio Carlos Peixoto: "eu fui para o prédio da UNE. No prédio da UNE tinha uns trinta e poucos malucos fazendo coquetel molotov, umas garrafas cheias de gasolina, fazendo aqueles talhinhos na rolha... Para armar o coquetel molotov tem que ter um talho na rolha pra botar o pavio. Eu disse: "Vocês estão loucos, vocês vão morrer. Vocês vão ser trinta e poucos cadáveres dentro de muito pouco tempo. Aqueles que vieram aqui ontem de noite e metralharam, mas encontraram tropa da Aeronáutica aqui, eles vão voltar. E dessa vez não tem tropa da Aeronáutica não. Vocês vão morrer". Eu acho que talvez tenha sido a coisa mais útil que eu fiz na minha vida até hoje. Botei gente para fora de lá a ponta-pé e a pescoção, na base da autoridade, aos gritos: "Sai! Vai embora, some, desaparece!". Consegui convencer mais três ou quatro que me ajudaram nesta ingrata tarefa e aí eu fechei a porta da UNE, eu acho que eu fui a última pessoa que viu essa UNE. Fechei a porta e resolvi ir para casa. Também já tinha me mudado, estava morando na casa da minha avó, perto da Muda, na Tijuca. Então, em um primeiro arrastão, se eles não localizam dentro da casa onde o sujeito mora, não vão ter tempo de verificar a família, e tal. É preciso que estejam procurando especificamente aquela pessoa. Não ocorreu, nem ocorreria. Não era tão importante assim. E aí fui para lá, fui andando pela praia do Flamengo, começou a cair uma chuvarada, uma coisa horrorosa. Cheguei em frente à "estátua do índio" – o Monumento ao Índio Cuauhtemoc – debaixo de chuva e vi as primeiras labaredas saindo do prédio da UNE. Eles já o tinham incendiado. Nesse momento passa uma caminhonete, do Jornal do Brasil, e o indivíduo caridosamente – não sei se ele pressentiu alguma coisa, alguma solidariedade estranha que veio por fluidos esotéricos – me deu uma carona até a Praça da Bandeira. Passamos de longe em frente à UNE e eu a vi queimando mesmo. Então eu digo: "É, foi um pedaço da minha vida que foi embora". Depois disso eu vou tentar recompor os cacos, os pedaços, viajar para o interior do Brasil. Fui ao nordeste, percorri todos os estados do nordeste, desde o Rio Grande do Norte até a Bahia. Fui ao Rio Grande do Sul duas vezes, fui a Minas. Em junho, a direção do Partido me mandou para São Paulo, porque eu tinha uma cara muito manjada no Rio de Janeiro".

Nos depoimentos que coletamos ou tivessos acessos com esses ou tantos outros personagens das cenas acima descritas confirmam a presença de grupos de civis na liderança do incêndio do prédio da UNE em 1964. E não o Estado Brasileiro.

É bom dizer que as Organizações Globo, que a direção da UJS/PC do B se associa DESDE 2004 é a mesma Globo que gerou o clima para que a sociedade civil queimasse a sede da UNE. Mas não só ela obviamente. E é o grupo da mesma Rede Globo que liderou as elites para retirar o Collor depois que ele não conseguiu dialogar com elas mesmo tendo todo o seu apoio para ser eleito e iniciar o mandato. É a mesma Rede Globo que elegeu como liderança Lindberg Farias (na época estava no PC do B) para assumir a derrubada de Collor e assim retirar a imagem de golpista das nossas elites.

É estranho um grupo que se diz socialista ou comunista se associar à Rede Globo. È estranho a UNE que foi linchada pelas Organizações Globo, incluindo sendo chamada no momento de seu maior confronto com a ditadura civil-militar como EX-UNE. Agora em pleno Governo Lula e numa democracia consolidada a UNE ao assumir posições tal contraditórias e conservadoras contribui para a celebração do esquecimento e a inutilidade das lutas sociais.
Por outro lado, a derrubada do prédio da UNE foi organizada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. No depoimento do ex-Presidente da UNE Ruy Cesar está muito claro ao projeto UNE/Rede Globo:

"No dia seguinte à nossa visita ao prédio da UNE, apareceu na reitoria e na diretoria da escola que funcionava no prédio um laudo de que o prédio estava condenado. Os engenheiros da Prefeitura chegaram à conclusão de que o prédio cairia e que ele tinha que ser desocupado naquele momento. Então, os estudantes foram arrancados das carteiras. De repente, tinha um bando de estudantes e professores no meio da rua olhando para um prédio vazio. Todos foram retirados rapidamente. A Associação dos Engenheiros do Rio de Janeiro disse que não havia nenhum problema com o prédio. Eles queriam fazer um outro laudo, mas nem a polícia nem a Prefeitura deixaram a Associação entrar para fazer o outro laudo, e a gente começou a organizar manifestações. A imprensa começou a divulgar que a Prefeitura demoliria o prédio imediatamente, e a situação ficou bastante difícil. Nós começamos a organizar um conjunto de forças no Rio de Janeiro, e a polícia cercou o prédio com batalhões. Acho que havia quase três mil soldados na porta do prédio, fechando o prédio para que a gente não conseguisse acessar. E nós do outro lado, em frente, na Praia do Flamengo, com também outros três mil estudantes e parlamentares. Nós vivemos uns cinco dias de confronto, em frente a esse prédio, observando-os colocar as bombas para a implosão, tentando invadir. Fizemos várias tentativas de romper o cerco policial. O máximo que conseguimos foi pendurar uma bandeira numa sacada. Alguém me levantou, eu subi na sacada, e um guarda me puxou pelos pés. Nós fizemos uma batalha campal em frente à Praia do Flamengo. Heloneida Studart foi jogada da pista para o aterro, lá embaixo – acho que são uns quatro metros. Eles a pegaram pela cabeça e pelos pés e a jogaram na rua, de onde ela saiu toda ferida. Ela já era uma senhora. Raimundo de Oliveira teve o braço quebrado. Ele era deputado. Teve muita gente ensangüentada e que saiu perseguida pela polícia. Fomos parar na ABI, onde o presidente Barbosa Lima Sobrinho manifestou apoio. No dia seguinte, conseguimos dobrar o número de pessoas em frente ao prédio. Mas foi um episódio bastante frustrante, porque nós assistimos ao prédio cair. Eles implodiram o prédio na nossa frente. Na frente do prédio se travava uma verdadeira batalha, brutal. Policiais e estudantes brigando. Toda hora vinha um choque, jogavam bomba. Já havia um desejo de confronto. Nós estávamos desesperados. A gente queria invadir aquele prédio de qualquer jeito. O prédio desabou, toda a frente e o miolo, e ficaram aparentes somente o fundo e a abóbada do teatro. Foi um episódio extremamente doloroso. Acho que foi uma agressão à história do Brasil, um atestado de ignorância não só dos militares, mas também dos dirigentes do governo e da Prefeitura do Rio de Janeiro. Uma incapacidade da opinião pública de reagir, um bando de estudantes solitários brigando pela preservação de um espaço, de um patrimônio, de uma forma completamente isolada".
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A ditadura civil-militar realmente conseguiu o seu intento: transformou a UNE 40 anos depois num Diretório Nacional dos Estudantes. É uma entidade silenciosa, arrogante, atrelada de corpo e alma ao Governo Federal e sem projeto para o Brasil. É uma UNE que ficou no seu canto deixando o Congresso manter Renam Calheiros na Presidência do Senado. Várias emendas parlamentares e os apoios financeiros dos irmãos de Renan à UNE pesaram enormente. A UNE também não apresentou nenhuma crítica ao Governo Federal desde 2003. O apoio financeiro das estatais, dos Ministérios e do Governo Federal como um todo contribuiu enormemente para a tomada de posição que envergonhou o movimento estudantil e o fez retirar o apoio à UNE.
O apoio ao Governo Lula por esssa gente tem um motivo apenas: mais recursos públicos. Não é um apoio gratuito, desinteressado ou baseado numa ideologia política. É puro interesse financeiro.
Sem a luta de setores do povo brasileiro que luta, dos cerca de 40 milhões de jovens brasileiros - e não a presença de uns poucos mil membros do PC do B - ou o interesse que muitas políticas públicas na área de social que contempla ou seja bem vista por significativa parte dos quase 200 milhões de habitantes do nosso País a agenda social não estaria na ordem do dia.
Se hoje, a UJS/PC do B que tem sua imagem muito associada ao Governo Federal tocar fogo na sede dos partidos dos seus opositores como o PSOL ou o PSTU não significaria que o Estado apoiou tal atitude. Quando os militantes da UJS/PC do B partem para cima dos seus opositores com porrada não significam que eles estão falando em nome do Estado, porque se eles quiserem se tornar membros do Estado precisam prestar concursos públicos ou serem eleitos pelo voto universal do povo brasileiro. É bom dizer que nos congressos da UNE a direção não é eleita pelo voto universal dos seus representados (os estudantes). Então eles não entendem muito bom o jogo democrático.
A direção da UNE é considerada pelos estudantes brasileiros como vendida, chapa-branca, baba-ovo e outros termos menos amenos que não seria bom registrar aqui. E ainda: correia de transmissão do PC do B no movimento estudantil. Mas não é por menos. O Partido que comanda a UNE há quase vinte anos – o PC do B – já está de casa nova. O PC do B recebeu doação de cerca de R$600 mil da empresa que presta serviço à UNE na confecção das carteirinhas estudantis (a STB).
E a direção da UNE ainda espera que o anúncio do repasse público à UNE aconteceça ainda no clima de inauguração da sede do PC do B. Coincidências? Não! Seria o triunfo da arrogância e do desrespeito ao povo brasileiro. Seria o prêmio aos que abandonaram as lutas, o debate e a crítica e preferiram ficar omissos, o que na história da UNE nem na ditadura civil-militar (1964-85) havia acontecido, exceto num curto espaço de tempo nos anos 1950. No caso do PC do B, a luta sempre foi o seu forte, mas na atual conjuntura ele se apequenou.
A UJS/PC do B parece que ainda não percebeu a seriedade e das questões implicadas nas mesmas. Estamos falando de questões referentes aos direitos humanos, à democracia, à liberdade de expressão, ao acesso à cultura e à valores básicos de convivência entre os indivíduos, o que diversos tratados nacionais e internacionais promovem. Seria recomendável que a direção da UNE respeitasse as pessoas que construíram o movimento estudantil brasileiro, os inúmeros militantes estudantis que morreram defendendo o nosso País e a inteligência dos mais diversos atores sociais com que contracena cotidianamente.

Estamos num país de homens e mulheres que lutam diariamente de todas as formas num momento histórico muito especial e numa democracia já consolidada, o que exige idéias e práticas condizentes com tal realidade.Só posso dizer que é preciso separar o que é um tipo de atividade que a UJS/PCdo B realiza na UNE dp que é realizado pelos movimentos estudantis sérios e engajados. Colocar tudo na mesma panela é injusto com osmovimentos de luta e com o próprio povo brasileiro mais excluído que espera do movimento estudantil ações mais coletivas e não serviço de reprodução de grupo político.

Muitos setores do movimento estudantil seguem na luta e não compactuam com um pensamento único. E os jovens que tenho observado lutam a partir de um amplo debate de idéias e são muito autônomos e generosos, lembrando como disse o mais recente entrevistado do nosso projeto, que a grande herança de 1968 40 anos depois é que "lutar é necessário e é o mais importante".A campanha de doação espontânea que a UNE começa a circular na mídia para que qualquer cidadão brasileiro doe dinheiro para o seu intento tem que se devidamente verificando, levando-se em consideração que o acompanhamento da origem dos recursos e suas comprovações sejam rigorosas para que recursos públicos entrem para a entidade e acabe sendo contabilizado como "doação espontânea".

Há poucos meses a UNE tem promovido uma verdadeira campanha para mudar sua imagem de governista, corrupta e de entidade que não luta.O caso mais explícito do cinismo da UNE foi tentar apropriar-se da luta dos estudantes que ocuparam a UnB. Mas todos sabem que a construção, organização, deflagração e manutenção da greve da UNB foi liderada pelas instâncias internas do movimento estudantil da própria UnB. Como o mais puro cinismo e conveniência, a UNE puxou uma passeata para o final do mês de abril, que não mobilizou como deveria os estudantes, pois a UNE está distante dos estudantes. Como jogada de marketing foi excelente para a direção da UNE, pois os jornais "engoliram" e passaram a associar o que acontecia na UNB à questão proposta pela UNE. Não deu outra. Passou a ser a líder, o que na verdade a UNE foi liderada. Ela não liderou nada. Uma das matérias na nossa mídia, como foi o caso do Jornal da TV Cultura, acabou dando um destaque à UNE que não deveria:

"Liderado também pela UNE, o movimento de Brasília já reflete em outros Estados. Cerca de 28 universidades federais devem enfrentar manifestações na próxima quinta-feira para reformulações internas e pelo fim das fundações que administram recursos públicos, destinado inclusive para pesquisas nessas universidades".

Em resumo, com a União Juventude Socialista do PC do B (UJS/PC do B) na direção da UNE percebemos que:
1) A UNE virou base do Governo Federal, embora não interessado em ajudar o Governo Lula, mas em barganhar o seu apoio (embora minúsculo pois não representam parcela significativa do movimento estudantil e nem dos jovens brasileiros) em cargos, verbas, pressões para atender seus parentes etc.;
2) A UNE aliou-se à Rede Globo visando servir de canal entre a Poderosa Imprensa e o Governo Federal. Deu no que deu, pois a Rede Globo entendeu aquilo apenas como "responsabilidade social corporativa" e deu um pé na bunda da UJS/PC do B após obter os recursos;
3) O apoio da STB (empresa que emite as carteirinhas estudantis da UNE) no valor de R$600 mil ao PC do B é o claro aparelhamento da UNE pela União Juventude Socialista (UJS) do Partido Comunista do Brasil (PC do B);
4) O silêncio da UNE no caso do Renan Calheiros é o grande exemplo da desonestidade intelectual da União Juventude Socialista (UJS) do Partido Comunista do Brasil (PC do B). È troca de apoio;
5) A União Juventude Socialista (UJS) do Partido Comunista do Brasil (PC do B) apoiou o recebimento de recursos da elite conservadora do país ao PC do B, o que compromete a imagem da própria esquerda brasileira que a UJS/PC do B diz defender
É bom dizer que depois de liberado milhões de reais em recursos públicos para a UNE "reconstituir" a sua história, o que foi visto foi a Rede Globo se beneficiar dos "produtos" do projeto e dos recursos públicos. o nome do projeto é"História da U.N.E.", que é divulgado pela própria UNE e pela Fundação Roberto Marinho como "Memória do Movimento Estudantil". A análise do produto final do projeto, o livro "Memórias estudantis: da fundação da UNE aos nossos dias," (de Maria Paula de Araújo, 2007), também é imprescindível. Já havíamos feito tal análise no artigo que está aqui:
http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com/2008/05/artigo-direitos-humanos-democracia-e.html
Mas aqui repetimos. Em qualquer projeto de pesquisa, a escolha dos parceiros é importante. No caso da parceria entre UNE e Globo, que nada tinham um com o outro, muitos jovens brasileiros protestaram na PUC-SP quando da ocorrência de um seminário por lá. A direção da UNE também não consultou suas bases quando da realização da parceria com a Globo, o que gerou menção em várias teses apresentadas nos congressos da entidade após o episódio. Obviamente nunca considerados ou debatidos entre a direção da UNE e base estudantil.Um segundo aspecto, creio que a escolha das fontes é fundamental. No caso dos depoimentos, a escolha dos depoentes ocorre em função dos objetivos claros e definidos do projeto. É para se questionar que, ao se gastar tempo e recursos para entrevistar depoentes que porventura seriam importantes para a "história da UNE", o projeto tenha escolhido os ex-presidentes que estiveram recentemente na UNE: Gustavo Petta (Presidiu a entidade entre 2003 e 2007), Felipe Maia (2001-2003), Wadson Ribeiro (1999-2001), Ricardo Capelli (1997-1999), Orlando Silva Júnior (1995-1997), Fernando Gusmão (1993-1995). Ou ainda Mauro Guimarães Panzera, que foi presidente da UBES em 1990, bem como Felipe Chiarello, o presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) de 1999 a 2001, que também participou de campanhas contra o corte de bolsas do Programa de Educação Tutorial, juntamente com a Coordenadora Técnica do Projeto da UNE, Angélica Muller.O mais enigmático dos entrevistados "selecionados" é Marcelo Britto da Silva, o Gavião, que foi Presidente da União Juventude Socialista (UJS) em 2007 e da UBES em anos anteriores, que garantiu mais uma vez a continuidade do PC do B na direção da UNE, pois para ele, "a UJS é uma entidade que tem uma responsabilidade para com a UNE muito grande. Tratamos a entidade com muito carinho e atenção no cotidiano do conjunto da nossa militância".Mas o que permitiu a entrada de tantos depoentes no projeto da UNE/Globo foi a sua ligação com o PC do B ou a sua União Juventude Socialista (UJS), pois nada possuem de contribuição com a reconstituição da história da UNE.Sem falar em tantos outros depoentes que tiveram pouca participação da UNE, mas que foram "eleitos" como depoentes do projeto.

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