domingo, 7 de setembro de 2008

40 anos da pior invasão na UnB



fonte: http://www.secom.unb.br/unbagencia/unbagencia.php?id=581



28/ 08/ 2008 - DITADURA MILITAR
Cedoc/UnB Agência


40 anos da pior invasão na UnB
Em 29 de agosto, completam-se quatro décadas da entrada de tropas no campus. Repressão deixou marcas na instituição
Cristiane Bonfanti

Da Secretaria de Comunicação da UnB
Nos idos de 1968, o médico Marcus Vinícius Ramos, na época um jovem estudante, conheceu de perto a obscuridade do regime militar na capital do Brasil. Formado na primeira turma de Medicina da UnB, Ramos, hoje com 60 anos, guarda da época uma das piores lembranças de sua vida: exatamente no dia 29 de agosto daquele ano, ele foi preso e agredido pela Polícia Militar na quadra de basquete do próprio campus.
Cedoc/UnB Agência

Em agosto de 2008, completam-se exatos 40 anos do dia em que os estudantes vivenciaram a invasão mais violenta das tropas militares na universidade (veja lateral). Ao tentar fugir dos policiais, Ramos fraturou o tornozelo e só foi liberado da quadra de basquete porque precisava ir ao hospital. “Aquela experiência foi um divisor de águas na minha vida. Eles destruíram sonhos de pessoas que acreditavam na mudança desse país”, lembra o médico, hoje mestrando em História pela UnB.
MARCAS - De fato, o episódio deixou marcas indeléveis não apenas na vida dos estudantes, mas no projeto de toda a universidade. De um lado, os ideais renovadores de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro (veja quadro), entre outros intelectuais, nunca foram implementados. De outro, a invasão acabou com a liderança estudantil e estancou movimentos e protestos.
Cedoc/UnB Agência

Para o médico, até hoje, o que mais se aproximou daquele período foi a ocupação da Reitoria da UnB, em abril de 2008, pelos estudantes que pediram a saída do ex-reitor Timothy Mulholland, denunciado por mau uso de verba pública. “A universidade nunca mais foi a mesma. Modificaram completamente o seu plano orientador”, lamenta Ramos.
MEMÓRIA - Calouro da UnB à época do regime militar, o professor do Instituto de Física (IF) da universidade Oyanarte Portilho escapou da morte no ano de 1968. Em uma das invasões das tropas militares, ele tentou fugir correndo do Instituto Central de Ciências (ICC) em direção à via L2 Norte, mas, no caminho, foi alvejado pelos policiais. “Por pouco não fui atingido. Joguei-me no chão e fiquei ali por uns cinco minutos, até eles pararem de atirar. Para mim, aquele foi o pior momento do regime”, recorda Portilho.
Segundo ele, nos anos 1960, a vida no campus possibilitava a integração entre estudantes, professores e funcionários. Ao abrir mão do sistema de cátedras (no qual algum professor era “dono” de uma disciplina ou área do conhecimento), a instituição propunha um sistema revolucionário, inclusive com a contratação de docentes de alto nível.
Cedoc/UnB Agência

O grande choque, diz ele, foi a perseguição contra os professores da UnB. Rotineiramente, o governo federal pedia a saída de docentes. Saturados, cerca de 200 deles pediram demissão em 1965. “A UnB se esvaziou de forma violenta. Por serem idealistas, eles eram acusados de subversão. Com isso, o processo de construção da universidade começou a ser interrompido”, afirma Portilho.
PROJETO INTERROMPIDO - Também professor do IF da UnB, Marcos Maia acredita que, quando pediram demissão, os docentes pretendiam apenas pressionar o Estado, mas o governo federal aceitou prontamente. “A nata da ciência e das artes estava aqui. Vivíamos em um ambiente internacional e motivador e éramos envolvidos tanto nas atividades culturais quanto nas de pesquisa”, indica Maia.
Cedoc/UnB Agência

Estudante de Física da UnB nos anos 1960, ele conta que, depois do pedido coletivo de demissão, a universidade foi reaberta com professores que não tinham a mesma visão de Anísio Teixeira, mas que simplesmente precisavam de emprego. “A universidade se transformou em pedras. Adotamos o sistema tradicional de ensino, pouco eficiente por não considerar as diferentes capacidades de aprendizado”, observa Maia.
Na opinião dele, de lá para cá, a universidade só piorou. Hoje, afirma ele, as tentativas de reconstrução são fracas. Há propostas que possibilitam mudanças, como a do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) do Ministério da Educação (MEC), mas que por si só não são suficientes. “Mais que isso, é preciso vontade política e uma postura ativa da comunidade acadêmica”, considera o professor.
PERFIS
DARCY RIBEIROEtnólogo, antropólogo, professor, educador, ensaísta e romancista, Darcy Ribeiro nasceu no dia 26 de outubro de 1922, em Monte Carlos (MG). Diplomou-se em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Especializou-se em Antropologia e, na década de 1960, lutou pela criação da UnB, instituição da qual se tornou o primeiro reitor. Em 1995, foi homenageado na universidade por ter sido um dos fundadores, ocasião em que o campus recebeu o seu nome. Morreu no dia 17 de fevereiro de 1997, em Brasília.
ANÍSIO TEIXEIRANasceu no dia 12 de julho de 1900, em Caetité (BA). Diplomou-se em Direito, mas destacou-se publicamente como educador. Institutiu, na Bahia de 1950, a primeira Escola-parque, que oferecia educação em tempo integral às crianças. Idealista, sempre brigou pela democracia na educação. Foi um dos fundadores da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e na UnB, da qual foi reitor em 1963. Faleceu em 11 de março de 1971, ao cair no poço do elevador de seu prédio.

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