segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Cerco de drogas a escolas


Editoral
Jornal do Commercio
Recife, 15 de fevereiro de 2009, p. 10

Cerco de drogas a escolas


Álcool e outras drogas continuam rondando as nossas escolas, apesar de advertências feitas pelos meios de comunicação, inclusive este Jornal do Commercio. Há meses, a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco informou que as calcadas de 95 escolas da rede pública do Grande Recife estavam ocupadas por barracas que comercializavam bebidas alcoólicas e cigarros. Novas determinações a respeito não estão sendo obedecidas. Nada mudou, só fez aumentar o número de barracas armadas e de escolas atingidas. Já são cerca de 200 estabelecimentos comerciais irregulares que descumprem a lei estadual que proíbe esse tipo de comércio a menos de 100 metros das instituições de ensino fundamental. Um caso: a Escola Estadual Eleanor Roosevelt, no Ipsep, com 1.300 alunos em três turnos, continua cercada de bares improvisados.
O pior é que, apesar da irregularidade, os donos das barracas se julgam com direitos adquiridos e afirmam que só saem se obtiverem compensações. É uma velha história, que se espalha pela capital e outras cidades, a invasão e a apropriação de espaços públicos para fins comerciais e outros. Como a fiscalização é frouxa e a administração é, em geral, omissa ou conivente, pontos comerciais e até casas de alvenaria vão tomando lugar de ruas, divisórias de pistas, praças, calcadas, empurrando os pedestres para o asfalto, com perigo de atropelamento e até morte. Uma antiga e já “venerável” invasão pode ser vista na calcada do lado direito da igreja do Espírito Santo (Praça Dezessete). Restaurantes e bares de alvenaria ocupam há décadas quase toda a calcada e até hoje desafiam as autoridades, que não parecem tão incomodadas com o fato.
Jaboatão dos Guararapes, há muito agredida por administrações abaixo de qualquer crítica, é campeã nesse tipo de transgressão. Ali há postos de combustíveis construídos em cima de canais e ruas inteiras ocupadas por residências e negócios clandestinos. Espera-se que a nova administração recém-empossada não permita a continuidade de tais abusos. O poder público não tem o direito de se omitir diante dessas ocorrências. Além de agredirem a população, elas geram contenciosos que poderão mais adiante trazer altos prejuízos aos cofres públicos em compensações a serem pagas.
Mais grave é o caso das barracas de bebidas no entorno das escolas, pois está em jogo aí a saúde e a integridade psicossomática de nossas crianças e adolescentes. No geral, os estabelecimentos de ensino já são bem precários em instalações e equipamentos, além de submetidos a constantes assaltos e depredações. Sistematicamente, a manutenção e os reparos que precisam ser feitos são deixados para a época do início do ano letivo. Ocupados com as festas de fim de ano e com a preparação do Carnaval, os servidores públicos cochilam no ponto. Infelizmente, ainda são poucos os que têm uma consciência voltada para o interesse público. Neste início de ano letivo, alunos foram barrados na porta de uma escola por não terem o uniforme. Por que não tinham? Administradores públicos, mais uma vez, dormiram no ponto.
É inegável que estão acontecendo muitas melhoras no campo educacional, tanto no plano federal, como nos do governo pernambucano e das prefeituras. Mas ainda estamos muito longe do ideal. Falta sobretudo uma conscientização ampla e firme de governo e sociedade sobre a importância fundamental da educação e do ensino para termos o País que desejamos. A nossa escola pública, que já foi bem razoável na época em que a demanda por ela vinha praticamente só das classes abastada e média, sofreu verdadeiro colapso a partir de visões equivocadas dos governos militares. Impõe-se agora uma corrida contra o tempo para recuperar o tempo perdido. Isso não é desculpa para permitir que o álcool, o tabaco e outras drogas montem um cerco a nossas crianças e adolescentes ao redor dos próprios locais de ensino. A lei precisa ser cumprida. Infelizmente, segundo levantamentos, também a formação de professores está em crise, com os cursos de licenciatura praticamente às moscas, devido aos baixos salários e crescente desprestígio dos mestres.

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