quarta-feira, 29 de agosto de 2007

RELEASE DO LANÇAMENTO DO LIVRO (LIVRARIA CULTURA)

RELEASE DO LANÇAMENTO DO LIVRO "MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO E A EDUCAÇÃO SUPERIOR" NA LIVRARIA CULTURA, RECIFE, 16 DE AGOSTO DE 2007.


O Projeto "A Engenharia Nacional, os Estudantes e a Educação Superior: A Memória Reabilitada" agradece a todos os que compareceram ao lançamento do livro MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO E A EDUCAÇÃO SUPERIOR (Organizado por Michel Zaidan Filho e Otávio Luiz Machado) na Livraria Cultura de Recife. Até o próximo lançamento, que será realizado em solenidades de diversas universidades. A UFPE nos convidou para um outro lançamento, sobretudo com um debate envolvendo os estudantes.

REPRESENTANTES NO LANÇAMENTO:

Da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE): Magnífico Reitor da UFPE, o Professor Amaro Lins

Do Governo do Estado de Pernambuco: Secretário de Estado da Juventude, o Doutor Pedro Mendes

Dos Ex-Estudantes Homenageados: Doutor Fúlvio Petracco (ex-Presidente do Centro dos Estudantes Universitários de Engenharia da UFRGS e Ex-Presidente da Federação dos Estudantes da Universidade do Rio Grande do Sul)

Da Câmara Municipal de Olinda: Vereador Marcelo Santa Cruz

Dos Estudantes da UFPE: Carlos Daniel A. Gallindo

Dos Interlocutores do Projeto: Dr. Telga Araujo

A FALA DOS ORGANIZADORES ( MICHEL ZAIDAN FILHO E OTÁVIO LUIZMACHADO)

A abertura da solenidade ficou a cargo do Professor Michel Zaidan Filho, que explanou em sua fala o retorno do movimento estudantil sob outras bases. Mas fez uma ressalva quanto ao extremismo da partidarização e da função meramente de correia de transmissão de partidos políticos, o que segundo ele sempre acaba provocando uma rejeição grande na sociedade e no meio estudantil quanto ao movimento estudantil, além de contribuir para a destruição das entidades. Ou simplesmente o seu esvaziamento. Embora o trabalho tenha como foco os anos 50, 60 e 70, um período de uma produção de lideranças importantes para o país, Zaidan demonstrou estar otimista com o atual movimento estudantil: "acho que o movimento estudantil é um meio através do qual se revelam vocações e lideranças muito importantes para o país". Em nome da organização do livro e do Projeto, Zaidan comentou sobre o trabalho árduo dos envolvidos com o projeto, assim como o apoio fundamental da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ambas situações responsáveis pelo pleno desenvolvimento de todas as atividades. Zaidan afirmou que o livro ora lançado acabou sendo uma contribuição da universidade para dar destaque a todo um trabalho desenvolvido pelos jovens das gerações 1950, 1960 e 1970 no Brasil:


"Acho que nós devíamos esse trabalho à geração dos anos 50, 60 e 70 que ajudou a democratizar a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e também a democratizar a própria sociedade brasileira. Nós tínhamos uma dívida muito grande com essa geração".


Zaidan também apresentou a contribuição do projeto à própria universidade brasileira:
"A idéia era correlacionar o resgate da memória dessa geração com uma discussão em torno da universidade pública, porque a universidade pública não é apenas uma construção institucional das autoridades governamentais, dos seus administradores e do seu corpo docente. Ela é uma construção coletiva que deve muito ao movimento estudantil. Então essa contribuição tinha que se ser salva do esquecimento".
Por fim, Zaidan disse emocionado que o próprio livro acabou sendo também uma homenagem às gerações passadas que lutaram por mudanças decisivas na universidade e na sociedade:
"O principal objetivo do livro é prestar este tributo a essas gerações. A luta delas não foi em vão. E o papel dos historiadores é o de disponibilizar para o presente este legado. Esse é o papel do historiador. O historiador que não cumpre esse papel ele trai a memória. Nós temos essa obrigação de ser os mensageiros desse legado, para que aquilo que aconteceu uma vez na história não se perca e possa ser resgatado e possa se transformado em seiva viva do presente".
A fala de Otávio Luiz Machado, também marcada pela demonstração de que um trabalho de tal natureza deve se pautar pelo mais alto espírito público, foi iniciada por uma série de agradecimentos a todas as pessoas e instituições que permitiram a realização do primeiro livro projeto. Otávio não quis se debruçar apenas às entidades e órgãos que apoiaram o projeto, mas aos depoentes, interlocutores e familiares dos depoentes. "É um trabalho no qual precisamos acreditar na pessoa humana". Mas foi além: "sem confiança as pessoas não falam, sem confiança as pessoas não doam documentos, sem confiança as instituições não apóiam".O início do projeto também foi mencionado, sobretudo com o apoio da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). E os bons frutos do projeto apresentados no momento atual só foi possível por vários razões. Uma delas foi lembrado por Otávio referindo-se à fala do Doutor Genival Barbosa Guimarães no último evento do Projeto. Para Genival, o encontro de um mineiro (Otávio) e de um Pernambuco (Zaidan) resultou numa parceria vitoriosa e produtiva. "Minas Gerais está sempre nos dando pessoas que vem para cá se juntar com os nossos", emendou Genival. Otávio ainda falou da pretensão do projeto de tratar da história dos estudantes de Engenharia de cerca de 20 instituições de educação superior do Brasil. Mas convocou novamente a todos para que a chama do projeto não se apague:
"Acreditamos que ninguém consegue construir um trabalho de tal magnitude sem a sensibilidade, sem a participação e sem a presença e a troca de idéias de muitas pessoas e instituições".
E falou da fase atual do projeto: "Acredito que o projeto está num estágio muito bom, pois está sendo difundido no Brasil inteiro". No decorrer da solenidade Otávio falou de uma das entrevistas que deu a uma rádio falando sobre o desenvolvimento de um projeto sobre a formação cidadã de crianças e jovens: "Um país que não acredita na sua juventude, um país que não aposta nas idéias, nas informações e nas ações de sua juventude continuará subdesenvolvimento eternamente".
E ainda falou da próxima coletânea intitulada "Juventude e Movimento Estudantil: ontem e hoje", que o projeto ainda organiza. Foi citada uma parte da entrevista do advogado Modesto daSilveira (um dos maiores defensores de presos políticos do Brasil) que estará publicada em tal coletânea:
"A resistência da nossa juventude universitária contra a ditadura foi fundamental para o estabelecimento do processo, que já ia se democratizando. Alguns pagaram com a vida, muitos com a integridade física, milhares com a perda da liberdade; mas, sem a participação desses jovens idealistas a ditadura teria sangrado o Brasil por muitos anos mais".
Otávio ainda garantiu que nas próximas versões do cd estarão sendo inseridos livros completos para o conhecimento dos interessados, levando-se em consideração o acesso difícil a tais publicações. Citou dois livros em especial:

1) "História da UNE" (organizado por Nilton Santos);

2) "Memorex: elementos para uma história da UNE" (organizado por Marianna Monteiro e Ary Costa Pinto).

Ao final da solenidade, em conversas com algumas pessoas que ainda ficaram no recinto, Otávio Luiz Machado confidenciou: "Não podemos deixar de contribuir com a história do movimento estudantil. Não tivemos e nem temos milhões de reais para o desenvolvimento do projeto, mas milhões de idéias que geram ações que viabilizam o projeto". Otávio ainda confidenciou sobre o grande achado:


"A produção de um cd foi algo muito favorável ao Projeto. Você reúne documentos, áudios, vídeos e milhares de páginas de textos numa mídia a um custo muito baixo. Por menos de R$5,00 você disponibiliza a milhares de pessoas e instituições toda a história sobre um determinado tema".


Otávio falou do seu empenho em garantir a presença de mais um produto pelo projeto ao povo brasileiro:


"De 2005 para cá consumi mais de 4 meses do meu tempo para garantir a produção do CD. É todo um trabalho de digitalização de documentos e a sua formatação em um programa de fácil organização e manuseio. Não me arrependo de nada, pois estamos contribuindo para disponibilizar dados muitos difíceis de localização e acesso".

AS FALAS DO REITOR, DO REPRESENTANTE DOS ESTUDANTES E DOS EXALUNOS

O Magnífico Reitor da UFPE, Professor Amaro Lins, que fez questão de estar na solenidade para contracenar com a organização e as pessoas ali presentes a apresentação do resultado inicial de um projeto apoiado pela UFPE. Disse que os organizadores "estão levando a frente um projeto de muita relevância não apenas sobre a história da universidade, mas sobre a história da nossa sociedade e do Brasil, o que vem trazendo grandes contribuições".
O Reitor demonstrou em sua fala estar ciente dos objetivos do projeto, pois segundo ele "é muito importante trazer a importância do movimento estudantil para a universidade brasileira". O Reitor também ressaltou a importância da universidade e da educação em geral para a construção de pilares importantes numa sociedade. O Professor Amaro identificou os estudantes como atores importantes da Universidade: "É essa luta dos estudantes na transformação dessa universidade que fez com que a universidade pudesse superar todos os seus obstáculos". E ressaltou: "eu gostaria de parabenizar os organizadores pela capacidade e disposição de resgatar um tema tão importante para a nossa universidade". O Reitor ainda entendeu os novos passos do projeto, inclusive ressaltando que "gostaria de desejar sucesso porque o projeto está em andamento" e reafirmando seu apoio ao projeto dentro das possibilidades.


"A cultura oriental tem algo muito importante, que é a paciência, que o Otávio falou. Eu diria, Otávio: eu gostaria de lhe render uma homenagem especial pela capacidade que você tem de acreditar e de perseverar. (...) Eu sei que você teve várias barreiras para ter acesso a estas informações. (...) Mas isto faz parte da cultura da universidade. A universidade queira ou não ainda tem uma estrutura que em função da própria história de Pernambuco – e com mais razão – da herança do patrimonialismo".


Ao final, o Reitor ainda reafirmou que, embora o movimento estudantil esteja demonstrando que está voltando à cena, afirmou que ainda "precisamos de fato fazer com que o engajamento sejamaior".O membro da Comissão gestora do DCE, Carlos Daniel, fez uma saudação do projeto, ressaltando durante a sua fala a importância da universidade brasileira. Para ele, "é importantíssimo esse trabalho de resgate da memória". Ainda segundo Carlos Daniel, os estudantes precisam ter referências para a luta diária do movimento estudantil, que certamente hoje é muito mais difícil de ser realizado. E ressaltou que a universidade está passando por importantes transformações:


"A gente tinha uma universidade mais aristocrática e hoje em dia vem mudando. E cada vez mais a gente vê que o nível de diferença da sociedade vem fazendo parte da universidade. E hoje a gente tem um governo mais democrático e aberto aos movimentos sociais".


Mesmo com todas as transformações, Carlos Daniel advertiu que o movimento estudantil precisa estar atento para uma de suas bandeiras históricas, que é a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade: "Mas a gente vê a luta do movimento estudantil de hoje como uma luta pelo direito de educação pública e não a defesa da educação como mercadoria".O advogado e vereador de Olinda, Marcelo Santa Cruz, que falou em nome dos exalunos da UFPE, focou a sua fala na questão dos direitos humanos. Marcelo foi um militante do movimento estudantil na segunda metade da década de 60 na UFPE. Além de advogado de ex-presos políticos, Marcelo também foi perseguido pela ditadura militar, assim como teve um irmão assassinado nos anos de chumbo. Uma das lutas do momento é a abertura dos arquivos da ditadura militar brasileira (1964-1985). Mas falou o quanto é difícil:


"Eu acho que o resgate das lutas que nos ocorreram no passado, como a abertura dos arquivos da ditadura, muitas vezes é considerada revanchismo. Alguns acabam pensando que a gente está querendo simplesmente colocar no banco dos réus as pessoas que torturaram, prenderam e mataram. Mas essa luta é para fazer justiça para que a história de luta daqueles companheiros sejam conhecidas e debatidas hoje como forma de reflexão".


Marcelo ainda falou das atuais comemorações dos 180 anos da Faculdade de Direito da UFPE, sobretudo do desligamento dele próprio e de vários companheiros através do Decreto-Lei 477, em 1970.

A FALA EM NOME DOS HOMENAGEADOS MILITANTES DAS ESCOLAS DEENGENHARIA DO BRASIL


Em função da dificuldade de reunir um bom número de homenageados de militantes das escolas de Engenharia do Brasil envolvidas com o projeto, a fala principal dos ex-alunos de Engenharia ficou a cargo do Dr. Fúlvio Petracco, que foi Presidente do Centro dos Estudantes Universitários de Engenharia da UFRGS e da Federação dos Estudantes da Universidade do Rio Grande do Sul (FEURGS).Petracco fez as saudações aos organizadores do livro e às autoridades presentes, passando em seguida a narrar a sua experiência no movimento estudantil na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Falou da famosa Aliança Operária- Estudantil-Camponesa, que iniciou suas atividades no Rio Grande do Sul no final dos anos 1950.Um fato importante da história do Brasil foi tratada por Petracco, cujo discurso indicou seu protagonismo em tal episódio:


"Quando surgiu o primeiro golpe em 1961, nós os estudantes fomos para a rua convocar o povo para resistir. Antes que manifestasse o Governador Leonel Brizola, estávamos nós os estudantes, os operários e os sindicatos mais importantes – os dos ferroviários, transviários nas ruas. Tínhamos uma interação tão forte, que através de apenas uma palavra de ordem, nós fizemos uma greve. E só liberamos uma linha para levar o povo para uma praça onde se realizava um comício às 10 da manhã no fatídico dia da renúncia de Jânio. À tarde essa população já havia subido a Praça da Matriz e já batíamos a porta do Governador. O Palácio do Brizola estava todo cercado pela Brigada Militar de arma em punho. E estava ali um coronel chamado Pery Cunha do Partidão. Um homem forte e alto. Mesmo com o Palácio todo cercado, nós combinamos eu e o Reinaldo dar um golpe de mão para entrar. E nesse golpe de mão furamos o bloqueio, tomamos os mosquetões deles. E aí me colocaram na janela do Palácio. E eu batia chamando o Governador Brizola. O governador como todo bom gaúcho não vê um cavalo pronto sem dar montaria. A praça estava cheia e o povo pedindo "legalidade, legalidade". Até aquele momento a posição era de oferecer ao Jânio o Estado do Rio Grande do Sul como um lugar em que ele pudesse falar as razões da sua renúncia e reafirmar a sua vontade com liberdade e sem constrangimento. E no final desse dia o discurso começava a mudar. E já era fato consumado a renúncia de Jânio. Mas não aceitávamos o impedimento do Jango, que naquele momento estava na China. Foi um momento difícil".

Petracco ainda apresentou toda a sua disposição em colaborar com o projeto, inclusive elogiando a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) por sua liderança através da realização de tal trabalho. A fala do ex-aluno de Engenharia do Rio Grande do Sul marcou a primeira fala em homenagem aos diversos representantes dos ex-estudantes ou ex-professores envolvidos com as escolas de Engenharia envolvidas com o projeto, que estaremos realizando até novembro.

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