É interessante como um projeto cultural que trata de movimento estudantil que existe por aí escreve seus textos de acordo com os patrocinadores e os interesses da entidade organizadora. E diga-se de passagem que, além de ser regado com milhões de recursos públicos, o projeto cultural ainda não cumpre o plano de distribuição de produtos culturais, o que o Ministério da Cultura exige como contra-partida para qualquer projeto ali aprovado. Quem lucra alto são os indivíduos que ganham com suas consultorias, com seus reembolsos e os seus privilégios. Uma das redatoras oficiais de tal projeto, ainda tem o descaramento de escrever um texto para um determinado público ressaltando alguns aspectos importantes, mas no outro, que deveria estar voltado a certos interesses, apagou tais aspectos e mirou-se em outros irrelevantes mas favoráveis aos patrocinadores. Mas o mundo dos projetos culturais também peca pela desonestidade intelectual dos seus componentes. O sóciologo Pierre Bourdieu já passou por experiência em relação a apoio de instituições e a questão da honestidade intelectual. Leiam:
"Há uns vinte anos, querendo fazer um trabalho sobre fotografia, eu havia aceitado a ajuda da Kodak, não exatamente pelo dinheiro (tratava-se de uma soma irrisória), mas pelas informações, principalmente pelas estatísticas que a empresa era a única a possuir. Eu respondi: ‘Esperem para ver o meu livro! Se o que eu escrever tiver a marca da Kodak, vocês terão todo o direito de berrar’. Os mesmos que se indignaram naquela época estão hoje absolutamente sem defesa diante do mecenato. Diz-se que os organismos que não foram expostos aos micróbios têm fracas defesas imunitárias” (p. 26)
(Bourdieu, Pierre. Livre-troca: diálogos entre ciência e arte. Pierre Bourdieu, Hans Haacke. Apresentação de Inês Champey. Tradução de Paulo César da Costa Gomes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995).
"Há uns vinte anos, querendo fazer um trabalho sobre fotografia, eu havia aceitado a ajuda da Kodak, não exatamente pelo dinheiro (tratava-se de uma soma irrisória), mas pelas informações, principalmente pelas estatísticas que a empresa era a única a possuir. Eu respondi: ‘Esperem para ver o meu livro! Se o que eu escrever tiver a marca da Kodak, vocês terão todo o direito de berrar’. Os mesmos que se indignaram naquela época estão hoje absolutamente sem defesa diante do mecenato. Diz-se que os organismos que não foram expostos aos micróbios têm fracas defesas imunitárias” (p. 26)
(Bourdieu, Pierre. Livre-troca: diálogos entre ciência e arte. Pierre Bourdieu, Hans Haacke. Apresentação de Inês Champey. Tradução de Paulo César da Costa Gomes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995).
No caso do projeto cultural em questão, além não haver distribuição gratuita para bibliotecas que teriam algum interesse nos produtos do projeto, o que disponibilizam de mais significativo à sociedade brasileira é de difícil acesso para os indivíduos de pouco poder aquisitivo. Os produtos também oferecidos terão como maior beneficiário uma entidade privada monopolizadora.
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