terça-feira, 17 de junho de 2008

NOTA DA VIA CAMPESINA PERNAMBUCO À SOCIEDADE BRASILEIRA

FONTE: e-mail

NOTA DA VIA CAMPESINA PERNAMBUCO À SOCIEDADE BRASILEIRA
PESQUISA PRA QUEM?
Dia 10 de junho a Via Campesina Brasil deu inicio a sua Jornada
Nacional de Luta Contra o agronegócio e em defesa da agricultura
camponesa.
Em Pernambuco, entre várias ações que estão se realizando durante a
semana, foi realizada uma ação em protesto contra a produção em larga
escala de agro-combustí veis, em específico o avanço da monocultura da
cana-de-açúcar. O ato foi realizado na Estação Experimental de
Cana-de-Açúcar (EECAC), no município de Carpina, Zona da Mata Norte de
Pernambuco. A Estação Experimental é uma Parceria Público-Privada
entre o Sindaçúcar – Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no
Estado de Pernambuco, que reúne as 20 maiores usinas do Estado – e a
Universidade Federal Rural de Pernambuco, e há 38 anos desenvolve
pesquisas para o desenvolvimento genético de cana, inclusive, de cana
transgênica.
O objetivo da ação política não foi um ataque à universidade ou às
pesquisas acadêmicas em geral. O objetivo principal foi demonstrar à
sociedade que os camponeses e camponesas do Brasil são contra este
modelo que privilegia a monocultura exportadora, utilizando nossas
riquezas naturais, nossas terras e mão-de-obra barata, destruindo o
meio ambiente e produzindo trabalho escravo. Entendemos que o papel da
universidade não é usar recursos públicos para pesquisas que
beneficiam usineiros, mas sim, para pesquisas que construam uma
alternativa de desenvolvimento para região que possa servir à grande
maioria.
A Estação Experimental de Cana-de-Açúcar recebe cerca de 6 milhões de
reais por ano para investir em pesquisa de “melhoramento genético” de
cana-de-açúcar. Metade desse recurso - R$ 3 milhões – são provenientes
de usinas ligadas ao Sindaçúcar, o que prova a estreita relação entre
a Estação, a UFRPE e os usineiros. Os outros R$ 3 milhões são captados
por projetos de pesquisa vinculados à UFRPE – ou seja, é dinheiro
público.
Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra),
o custo médio para o assentamento de uma família na região nordeste é
de R$ 25 mil por família. Isso quer dizer R$ 6 milhões poderiam
assentar pelo menos 240 famílias por ano no nordeste, que estaria
produzindo alimentos saudáveis para elas e para a população local. Ao
invés disso, esse dinheiro é utilizado para beneficiar 28 usinas e
destilarias nos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte,
e para promover ainda mais o avança do monocultivo de cana-de-açúcar,
causando a elevação dos preços dos alimentos e a concentração da
propriedade da terra por empresas estrangeiras.
A diminuição sucessiva da área plantada de alimento terá, em breve,
conseqüências gravíssimas para toda população mundial. Hoje a
população urbana já está sofrendo em função do aumento dos preços dos
alimentos, conseqüência principalmente da utilização da soja
brasileira para produção de biodiesel e do milho dos Estados Unidos
para produção de etanol.
Nós, da Via Campesina, somos aqueles que foram despojados de toda e
qualquer sorte e possibilidade em conseqüência da ação devastadora da
monocultura da cana-de-açúcar, concentradora de terra e riqueza. Somos
pobres, fomos durante toda história escravos do setor
sulcroalcooleiro, que sempre dominou a Zona da Mata Pernambucana, que
chega até a ser chamada por alguns pesquisadores de ”região
canavieira”. Somos filhos desta terra e ao longo da história fomos
construindo a consciência de que nesta região podemos construir um
outro modelo de agrícola e de desenvolvimento econômico.
Queremos fazer entender que a responsabilidade da universidade publica
é para com o povo e não para com o agronegócio e o capital financeiro,
que querem transformar os alimentos, as sementes e todos os recursos
naturais em mercadoria para atender os interesses, o lucro e a
ganância das grandes empresas transnacionais.
Os recursos financeiros e humanos de uma instituição pública como a
Universidade Federal Rural de Pernambuco devem ser usados para ajudar
a resolver os problemas do povo brasileiro. E a fome é um deles.
Portanto que pesquisem desenvolvimento de milho, de feijão, de
macaxeira. Se os usineiros querem fazer pesquisa para aumentar seus
lucros, que façam em suas terras e contratem seus técnicos.
Certamente quando a universidade pública entender seu papel social ela
poderá contribuir muito utilizando o conhecimento acumulado e os
técnicos servidores públicos que se apropriaram destes conhecimentos,
com recursos públicos do povo brasileiro, para a melhoria das
condições de vida da maioria e a produção de alimentos saudáveis e
baratos. Esse é certamente o anseio da maioria do povo brasileiro e de
inúmeros professores e alunos da UFRPE e da UFPE que nos parabenizaram
pela ação e continuam nos prestando sua solidariedade.
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Cassia Bechara
Setor de Comunicação MST-PE
tel. 81-3222 7569 / 9647 4331

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