segunda-feira, 23 de março de 2009

Insegurança e drogas são os maiores problemas da educação brasileira

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http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=Noticias&docid=6E94D5BB1328205F8325757C00493485

Insegurança e drogas são os maiores problemas da educação brasileira


Notícia divulgada no Jornal da Globo do dia 16 de março de 2009
Quais são os maiores problemas da educação pública, na opinião dos brasileiros? A resposta está nas três reportagens especiais que o Jornal da Globo começa a exibir nesta segunda-feira, com dados de uma pesquisa exclusiva realizada pelo IBOPE, em parceria com o movimento Todos pela Educação.
“A gente vem aqui para estudar, quando chega não tem aula”, diz uma menina de Belém do Pará. “Salários baixos. Os professores ficam desmotivados”, afirma um professor de Cuiabá.
Qual é o maior problema da escola pública no Brasil? Uma pesquisa feita pelo IBOPE Inteligência, em parceria com o movimento Todos pela Educação, fez essa pergunta a brasileiros de todas as regiões do país. E o primeiro lugar no ranking das dificuldades surpreendeu.
Houve um tempo em que a escola era considerada um lugar seguro: dos portões para dentro, a única preocupação era com o aprendizado. Mas os brasileiros mudaram de opinião e agora estão preocupados com o que não está nos livros, mas que faz parte do dia-a-dia dos alunos nas escolas: a segurança e o tráfico de drogas.
Estimulados a apontar os três maiores problemas das escolas brasileiras, 50% dos entrevistados citaram a falta de segurança e as drogas. Em segundo lugar, estão professores desmotivados e mal pagos. E só em terceiro lugar aparece a baixa qualidade do ensino. “Surpreende o apontamento da questão da segurança em primeiro lugar e, de certa forma, talvez esse item explique os dois seguintes, que é a desmotivação dos professores e a questão da dificuldade de aprendizado de algumas crianças, porque, quando você não tem um ambiente de paz, um ambiente próprio para o aprendizado, isso dificulta a relação ensino-aprendizagem, dificulta o trabalho do professor e, por desdobramento natural, também o desempenho dos estudantes”, avalia o ministro da Educação, Fernando Hadad.
Na zona leste de São Paulo, uma escola parece uma prisão. Há grades por todos os lados: nas janelas, nos corredores, nas escadas. E cadeados nos portões. As salas de aula têm portas de ferro trancadas a chave. Mesmo assim, o tráfico consegue entrar. Se um aluno quiser conseguir droga dentro da escola, ele consegue? “Claro que consegue, em qualquer lugar”, conta uma jovem. Todos os alunos sabem onde e quando encontrar droga. “Há muitos meninos que às vezes saem da sala de aula e vão para o banheiro fumar, se drogar lá dentro”, revela a estudante.
A direção chegou a instalar câmeras de segurança nos corredores, mas elas foram destruídas. “O aluno destrói, ele vê uma câmera, acha que aquilo ali está filmando ele, então ele vai lá e destrói. Mas isso é uma questão de conscientização. Quebrou? A gente põe outra”, diz o vice-diretor da escola, Reinaldo Gomes Trindade.
Quando a noite cai, o controle na portaria fica mais rígido. Para entrar, todos os alunos precisam mostrar a carteirinha da escola, uma tentativa de proteger estudantes e funcionários. A professora de ciências conta que já foi intimidada e viveu momentos de tensão dentro da sala de aula. “Já houve casos de o aluno ameaçar: ‘Ah, professora, você vem de carro, professora. Cuidado, hein, professora!’”, lembra Viviane Ribeiro Gadotti.
Não só os professores se sentem inseguros. Em outra escola de São Paulo, recreio só com mochila nas costas. “O pessoal da sétima, da oitava, do resto, fica entrando na sa la e fica pegando as nossas coisas, aí não tem como a gente fazer nada. A única coisa que a gente tem que fazer é levar a mochila junto”, conta a estudante Bárbara Camilo, de 11 anos.
Os alunos reclamam que a escola é desprotegida. “Há pessoas que também não são desta escola, vêm aqui, vêm aos montinhos, ficam aqui no portão, aí o tio pensa que são desta escola e deixa eles entrar”, diz a estudante Isabela, de 10 anos. “Eles não estudam na escola e querem mandar na escola, fazer o que quiser. Picham, quebram, rouba, fazem o que quiserem. E a escola não fala nada”, afirma o estudante Marcelo França da Silva, de 13 anos.
O resultado da pesquisa desafia os especialistas que encomendaram o estudo. Eles arriscam uma explicação para o destaque dado à falta de segurança. “Naturalmente, a pessoa de menor nível de escolaridade, em relação às grandes cidades, mora nas periferias da cidade. São pessoas, do ponto de vista socioeconômico, menos favorecidas. Então elas sentem mais de perto o problema, de forma mais grave, a questão da violência, do tráfico, da droga, principalmente do jovem mais pobre, que é extremamente desprotegido dentro do contexto social atual”, explica o presidente-executivo do movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Campos.
Mas os números revelam que todas as classes sociais estão preocupadas com a violência na escola pública. Drogas e falta de segurança são citadas por 56% dos entrevistados com renda familiar entre cinco e dez salários mínimos. E, mesmo entre os mais ricos, o índice chega a 40%. “Também me surpreende que o problema da insegurança na escola tenha essa dimensão. a gente sabe que esse problema existe, mas eu tinha a impressão que estaria mais focalizado em algumas áreas, em algumas cidades, mas a pesquisa mostra que o problema é muito mais amplo, muito mais generalizado do que se imagina, e isso é realmente muito sério”, analisa o sociólogo e educador Simon Schwartzman.
A próxima reportagem da série vai discutir o segundo grande problema da educação apontado pela pesquisa: professores desmotivados e mal pagos.

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